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As histórias de uma campeã
As histórias de uma campeã
Das equipes mirins de vôlei de quadra ao ouro da primeira medalha olímpica feminina brasileira no vôlei de praia; das batalhas pelo reconhecimento das mulheres no esporte ao prêmio da Unesco por seu projeto que incentiva a educação por meio da prática esportiva – essa é a inspiradora história de Jacqueline Silva, a Jackie do vôlei.
Ao ser banida do vôlei de quadra no Brasil, Jackie voltou-se para o vôlei de praia nos Estados Unidos, participou de sua elevação à categoria olímpica e conquistou o ouro em Atlanta ao lado de sua dupla Sandra Pires, em 1996. Sem se acomodar com a fama e sempre acreditando no poder do esporte e na capacidade de autodeterminação das pessoas, fundou o Instituto Jackie Silva, onde desenvolve atividades de formação de jovens.
Escrito por Rodrigo Lacerda e Fabiana Barcinski e ilustrado por Guazzelli, o livro inclui também informações práticas para o pequeno leitor compreender melhor o universo do vôlei: os fundamentos e as regras básicas da modalidade, acompanhados de desenhos explicativos; uma tabela com a participação feminina brasileira nas Olimpíadas e as medalhas conquistadas; e uma linha do tempo da carreira de Jackie.
Quando o slide do seu pé foi apresentado num congresso de ortopedia, alguns especialistas chegaram a afirmar que era impossível andar direito. Entretanto, a dona do pé problemático foi a primeira mulher brasileira a conquistar uma medalha de ouro nos Jogos Olímpicos. Esta guerreira é Jacqueline Silva, que com Sandra formou a dupla de ouro do vôlei de praia e reluziu nas areias de Atlanta.
“27 de julho de 1996 foi o dia mais importante da minha vida. Nada podia sair errado. Vinha me preparando durante os últimos dez anos. Desde o início de minha parceria com Sandra, a gente vinha treinando com o objetivo de ganhar a medalha de ouro”,
Eleita pela Federação Internacional de Voleibol a melhor jogadora de vôlei do mundo na década de 90, Jacqueline relembra os altos e baixos dos seus mais de 30 anos de carreira e desfaz, com franqueza desconcertante, muitas fofocas nas quais foi envolvida. Das partidas disputadas na infância na praia de Copacabana até o lugar mais alto do pódio olímpico, Jacqueline enfrentou muitos desafios. Considerada bad girl por suas atitudes polêmicas (certa vez vestiu o uniforme do avesso por se recusar a fazer propaganda do patrocinador de graça), foi expulsa da seleção brasileira aos 23 anos. Sua carreira poderia ter acabado aí se não fosse ela a teimosa que é.
“É melhor ser brigão que ser bundão. Nunca vi um bundão vitorioso”
De cabeça erguida, continuou a lutar corajosamente pela dignidade do esporte e por melhores condições dos esportistas brasileiros. Se hoje o voleibol do Brasil pode ser comparado ao de países como Cuba e China, devemos grande parte dessa vitória a ela.
“Jacqueline é um dos pilares do vôlei feminino brasileir0”, afirma o comentarista esportista Galvão Bueno. Jackie do Brasil – Autobiografia de uma jogadora não autorizada está repleta de vitórias e derrotas: as primeiras partidas pelo Flamengo, a convocação para a seleção juvenil, a primeira medalha de ouro, a participação da seleção de vôlei nas Olimpíadas de Moscou, os conflitos com Carlos Arthur Nuzman, então presidente da Confederação Brasileira de Vôlei, o exílio involuntário nos Estados Unidos, onde ajudou a difundir o vôlei de praia, as brigas polêmicas com as jogadoras e parceiras Sandra e Ana Paula. Em determinados momentos, o leitor irá se sentir como se estivesse dentro da cabeça da jogadora, pois tamanha sinceridade só mesmo em pensamentos. São muitas as histórias engraçadas, como a que aconteceu no início de sua carreira, numa viagem da seleção à Polônia.
“Num dia eu estava com tanta fome que enrolei um fio de cabelo no restinho do bife e chamei o garçom para reclamar. O maior constrangimento, mas só assim a gente conseguiu um pouco mais de comida”. Sua amizade com Isabel, jogadora de vôlei que estudou no mesmo colégio, também rende risadas. “A Isabel e eu sempre deixávamos o trabalho para fazer no último dia, aliás, na última noite, o prazo estourando. Como estávamos em regime de concentração, as luzes eram apagadas às 10 horas da noite, e a gente era obrigada a ir dormir. Eu ia com a Isabel para o banheiro, cheias de livros, eu ditava, ela escrevia, ela ditava, eu escrevia, aquela loucura”. Jacqueline continua sua luta, dedicando-se às novas gerações. Ela acredita que é através da educação que se pode dar um grande salto na história do esporte nacional. Suas conquistas são motivo de orgulho para todos os brasileiros e sua história serve de exemplo e incentivo a todos os que pretendem alcançar objetivos difíceis, no esporte ou não.